Um texto de minha autoria, será um conto?
REJANE CORREA – 26/04/2019
Morro de medo de tempestade! Tanto desastre ela
pode causar! Mas depois que passa dá uma sensação agradável!... Tudo fica tão
limpinho!
Gente é estranha, sempre tão bagunçada! Cheia de
conflito e contradição! A pouco estava eu, me encolhendo de medo. No instante
seguinte olha eu, vendo o lado bom dessa tempestade que chegou para me
assombrar.
Tempestade costuma passar logo, cai aquela pancada
de água, faz uma barulheira danada, mas logo, logo ela se acaba. O problema
mesmo é a chuva mansinha! Chuva fina, que não passa! Essa é danada! Enquanto a
tempestade vai lavando o solo, a superfície, a chuva garoa penetra na terra. Ela se entranha nas profundezas do terreno que vai ocupando. Ela não molha só
por cima. Ela se torna parte. Transforma a terra seca em barro, empapuça o solo
de água.
Parece que não tem espaço, mas ela se faz
penetrar, vai ocupando, vai preenchendo. E o pior é que às vezes ela ainda
causa desmoronamentos! Barragens se rompem. Terrenos deslizam por causa da
falta de escoamento. A chuvinha causa, ainda, um engano: às vezes olhamos e nem
percebemos que está chovendo.
Essa chuva mansinha está caindo aqui dentro do meu
peito, já faz mais de dez anos. Ô gosto amargo! Ela não tem cheiro bom! O gosto
dela, o seu aroma é a rejeição! Parece que não tem mais espaço, só que ela não
para não. Vai inchando o solo do meu peito, ocupando todos os espaços, com a
maldita da rejeição. Estou tão adaptada que às vezes nem percebo a sua
presença. Mas ela está lá, teimosa. Molhando. Ocupando. Penetrando. Ô chuva
maldita! Um dia tu hás ainda de me matar! Ainda bem que hoje aprendi a fazer o
escoamento, já houve tempos de longos desmoronamentos.
Ajuizando direitinho, olhando bem pelo vidro da
janela, não estou mais tão certa se o que está caindo é tempestade mesmo, ou se
foi apenas a chuvinha mansinha que engrossou. O que está me fazendo confundir é
a barulheira danada dessa chuva de hoje pela manhã! Chuva mansa geralmente não
vem acompanhada de raios e trovões! Talvez todo esse barulho seja uma forma de
resistir. Seja um modo de clamar aos céus por uma trégua, por clemência!
Mais uma vez, a presença da contradição! Meu peito
inundado pela água barrenta da rejeição, no entanto, tem também recantos secos,
solos duros, terra infértil clamando pela chuva da aceitação.
Pensando bem, é tempestade mesmo o que cai aqui
dentro! Hoje a chuvinha mansa cedeu espaço para a tempestade atingir os cantos
secos por aceitação. Olhando por esse ângulo, talvez a tempestade não precisa me
assustar tanto! Ela deve ter chegado para lavar essa terra seca, esse solo
duro. Além do mais, tempestade causa uma enxurrada danada, sai carregando tudo!
Quem sabe ela veio para levar embora os dejetos, os restos que ainda me impedem
de aceitar... Ou também ela pode estar trazendo os recursos necessários para
que a chuva mansa da aceitação possa chegar para ficar.